segunda-feira, 10 de março de 2014

o meu amor

é o que eu sinto e aquele que me faz feliz
me enche de paixão
arde meu peito em suspiros

sintonia surreal
que preenche meus motivos
disfarça razões, desperta emoções
e tira meus sentidos

sem você meu coração dói
feito vento que sopra
e machuca

e ao te ver
este pedaço de mim
desmorona em alegria e bate forte
até meu corpo se equilibrar ao teu

um só,

amor!


Rafaella Telles


"O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca 
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada"

Chico Buarque

sábado, 15 de janeiro de 2011

Pra falar de amor

Eu te chamei aqui porque hoje eu vim falar de mim. Essa vontade que eu sinto em dizer o que você fez aqui dentro. Eu que me fechei, e esqueci de um mundo inteiro. Que mesmo mal conhecendo a vida, sofria de uma urgência de falar sobre o quanto eu aprendi nesses anos, o tanto que eu carreguei de bagagem, como alguém que volta de uma viagem cansada, mas ainda tem força pra mostrar as fotos. E com algum conhecimento que adquiri ao longo do tempo, disfarcei inocência e te chamei aqui.

Eu te puxei pra cá pra falar de você. Você que destruiu todos os meus porquês, me fazendo desacelerar de toda a minha pacata rotina, e trouxe de volta reposta a tudo. Que como um clarão, iluminou minh'alma até me emudecer de tanta paz. Bagunçou esse meu ser a duzentos por hora, que desde o primeiro momento em que te viu não aceitou jamais te perder. Eu falei tanto de mim, de você, de nós. E você me escutou com cautela. Dedicado em interpretar cada palavra, gesto e tom de voz, você me deixou falar. Quando ninguém mais no mundo me ouvia. Me trouxe calmaria. Me cativou em cada detalhe meu, em cada centímetro do meu corpo, em cada erro, cada acerto, medo, vontade. Você é minha serenidade.

Eu te fiz ficar pra  falar de amor. Aquilo que sinto, forte como tua voz que me cala. Teu sorriso que me desmancha e me apaixona descontrolavelmente. Esse teu abraço confortável, um que existe enquanto a minha cabeça encosta no seu ombro. Eu queria te falar de alegria, te contar do quanto ainda me admirava descobrir algo tão doce em você, quando todos os doces já me pareciam amargos. Eu quis te falar do sol que eu vejo mesmo quando fica nublado, do tanto que o meu peito se aquece mesmo quando o frio aparece. Quis avisar do quanto o tempo me surpreende quando estou ao seu lado, de como o contraste da vida aumentou, do quanto cinco dedos entrelaçados aos meus fizeram tudo ser possível.

E foi você quem me fez ficar. Extrapolou a minha probabilidade de sorrisos e preencheu o predicado de tudo em que hoje eu sou sujeito. Inspirou, acolheu, fez melhor e falou o que sempre precisei ouvir. Uma resposta sincera, completa, inédita.

E aí eu calei.
Porque quando não sou eu que falo, quando o meu coração palpita e eu calo, é você que fala em mim. E quando a gente fala junto, quem se cala é o próprio mundo, pra ouvir falar de um amor sem fim.

você merece cada detalhe do meu dia.

Rafaella Telles


" (...) Você vai encontrar alguém que vai mudar
A sua vida inteira da noite pro dia! (...) "


te amo

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

17out


Estou em muita falta aqui! Tenho tantos textos pra postar e tantas reflexões a expor, mas com essa nova fase na minha vida tenho que repensar bastante no que espelhar aqui. Nunca me senti tão leve e cheia de bons sentimentos ao mesmo tempo como tenho estado. Meu coração enfim está preenchido por completo. Nem sei mais o tempo que esperei pra eu mesma me encontrar assim. E neste post é tudo que eu tenho a dizer sobre isso. Meus nós andam bem distantes de quiproquós! Hoje não vou postar uma cronica, nem poesia, nem musica, hoje é cotidiano. MESMO!

Me lembro perfeitamente daquele último show. Eu entrando naquele lugar cinzento, de odor não muito agradável e cumprimentando sempre alguém. A maioria das pessoas que rodeiam a minha vida, partilham do mesmo gosto que o meu. E naquele lugar, não tinha como ser diferente. Era um dia de tristeza, misturado com felicidade, saudade, e um sentimento que até hoje, ninguém que esteve lá, soube explicar. Como pode sentir tudo isso ao mesmo tempo? Que sintonia é essa? Fato é que somos um público fiel e estávamos todos lá: rezando pra que não fosse real tudo aquilo que foi dito em torno do show. Entramos sabendo a verdade e saímos pedindo para que fosse mentira! Passado algum tempo, fizeram a alegria de alguns, tornando cada segundo do pseudo-encontro o mais longo possível e sendo muito bem saboreado. E novamente estávamos nós ali, não acreditando ainda no que se passava.

Hoje eu que não acredito nem um pouco no que está pra acontecer. Dezessete de outubro, quase duas semanas antes do meu aniversário. Natural pra quem tá prestes a nascer de novo!

Mala pronta, coração na mão e apenas dois dias que me separam de um dia que eu tanto esperei! Eu não disse que ia?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sem segredos



Tenho uma meia sete-oitavos cor de algodão doce.
Mas isso é segredo.
Gosto de Novos Baianos, ouço alto enquanto me arrumo. Mas isso? Pssss... É segredo.
Às vezes eu como direto da panela... Por favor, boca de túmulo!
Outro dia chorei assistindo Moulin Rouge. (outro dia?)
Se eu souber que alguém comentou isso por aí, eu nego.
Não leio emails longos.
Às vezes, falo que tenho 1,62.
Não sou totalmente loira e vivo querendo ser morena.
Penso sempre em fazer mais e mais tatuagens.
Filtro ligações no identificador de chamadas.
Mordi a hóstia na primeira comunhão.
Acho que bebê recém nascido não deve andar de avião. Pelo menos não no meu avião.
Queria me chamar Beatrice quando era criança.
Não sou esotérica, nem muito religiosa religiosa, nem acredito em coisas que não vejo. Confio mais nos astros do céu do que naqueles desenhados nos mapas.
Acho ridículo ficar sofrendo por amor, mas quando eu sofro acho ridículo quando acham isso de mim. E por isso já jurei para mim mesma que se meu peito doer por amor de novo vai doer calado, trancado no banheiro, até passar o ataque histérico e tudo voltar ao normal.
Dou risada por dentro quando ouço alguém falar uma bobagem descabida, sempre me acho incapaz de dizer tal asneira. Mas, ninguém precisa saber disso, né? Ficaria mal pra mim.
Odeio gente que se acha dona da verdade, esse tipinho que tem certeza de que o bairro onde mora é o melhor lugar do mundo, por exemplo. Essas pessoas que não compreendem como os outros podem ser felizes morando no centro, no Tremembé, em Hortolândia ou em Johanesburg não têm o meu respeito. Mas, como é segredo, elas não sabem disso e a gente se dá bem.
Adoro sentir saudade de seja lá o que for. E como disse um sábio amigo, não abriria mão de nenhuma delas por nada. São saudades minhas. Ao extremo, é a soma delas que faz de mim eu. Sinto saudade de comprar material escolar, de encapar os cadernos com o plástico daquela série, de escolher um estojo novo e uma borracha cheirosa. Sinto saudade até do cheirinho da escola (aquela mistura de pão doce e livro novo). Sinto saudade de ter preguiça de ir ao balé e não conseguir preparar uma primeira aula de sapateado, da marca Studio Line (esculpa seus cabelos à sua moda) e de nata no leite. E olha que eu nem gostava dela (e não gosto ainda).
Sou uma nostálgica incurável. Adoro Indiana Jones, Dr. Emmett Brown, a Mônica e o Cebolinha e Friends.
Há momentos em que fico lembrando de coisas com uma dor no peito... Videocassete e bomba de encher pneu de bicicleta, por exemplo. Quase choro.
Não quero casar na igreja. E já sonhei sim que tinha um bebê. Lindo, gordinho e risonho. Não, não era de ninguém conhecido, e isso no sonho era zero importante.
Não gosto de ouvir Maria Gadú. E olha que meu música brasileira está sempre no meu top five. Como essa mulher acha que pode cantar Legião Urbana e obter o mesmo sucesso? Não dá!
Fazer o quê? É a pura verdade, meu amigo... A pura verdade. A voz dela me irrita!
Amo algumas coisas e algumas pessoas como se fossem vitais para minha existência. Abomino outras como se fossem uma espécie de pereba crônica da qual não se livra nem com uma reza das brabas.
Eu gosto de cheiro de cachorro, de morango e de outono. Eu não gosto de bunda grande, assinatura eletrônica e frases no MSN. Isso faz de mim uma santa? Ou uma chata?
Eu gosto de piscina, de cebola e do Jude Law. Eu não gosto de Fall out boy, carnaval e textos do Jabor que não são do Jabor. Isso faz de mim uma pessoa amarga ou uma pessoa de bom gosto?
Eu gosto da Kate Winslet, de Cupim ao molho madeira e detergente de coco. Não gosto de gato, de “balada” e de acordar tarde. Por isso eu sou intolerante ou sincera?
Prefiro email à conversa por telefone, temaki a batata frita, Austrália a Paris, carro a avião. Então eu sou atrasada ou melancólica?
Odeio bom humor falsificado. Prefiro um homem que me ponha no eixo a um sentimental chato sem pelo no peito, mas não abro mão do romântico.
Não costumo dizer nunca. Sou cabeça dura e orgulhosa, mas mudo facilmente de idéia se convencida do contrário por alguém ou pelo meio.
Prefiro frio a calor, campo a praia, loiro a moreno, inteligência a emprego bem remunerado. Comédia a terror, amor a paixão, Quindim a sorvete. Odontologia a Farmácia, Rodrigo Aamarante a Leonardo Dicaprio, Beringela a jiló, atlântico a pacífico.
Entre cantar e dançar, fico com a segunda opção.
Entre o céu e o mar, fico com a montanha.
Entre o silêncio e a gritaria, escolho simplesmente estar só.
Entre o sim e o não, a verdade, por favor.
E nada disso interessa a absolutamente ninguém. Não interessa sequer a mim mesma que já sei de tudo que sei e que sou.
Meus erros ou minhas bondades, não vão fazer do mundo um lugar mais sombrio ou torná-lo melhor.
Minhas verdades não fazem de mim uma pessoa boa ou ruim.
Por isso, guardo tudo em segredo.
É coisa minha.
Não interessa a ninguém.


R. Telles

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A minha tv tá louca.


Enquanto pessoas perguntam porque, outras pessoas perguntam porque não? Até porque não acredito no que é dito, no que é visto. Acesso é poder e o poder é a informação. Qualquer palavra satisfaz, a garota, o rapaz. E a paz quem traz, tanto faz. O valor é temporário, o amor imaginario e a festa primeiro de julho. Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia. O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa. A vida ingrata de quem acha que é noticia, de quem acha que é momento. Na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que nao tem ovo na panela, que não tem gesto. Quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.

domingo, 27 de junho de 2010

Duas almas

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo ...

Alceu Wamosy


Foto: Kleber Saraiva

sábado, 19 de junho de 2010

Francisco, again

Sei que prometi postar crônicas, mas hoje é o dia dele! Eeee, bem, estou desculpada, ?! rs.

 

Desde nova fui embalada por sons brasileiros, mas levei um tempo pra me encontrar em grandes poetas. Vaguei aqui, ali. Mas finalmente me achei. Fui me apaixonando aos poucos, ouvindo amigos cantando, vídeos rolando, histórias sendo contadas. E assim começaram os meus ensinamentos.
Aprendi, por exemplo, que havia uma mãe que muito se orgulhava de seu filho que, apesar de ser bandido, nada em casa permitia que faltasse. Seu moço, olha aí, é O Meu Guri (''e ele chega''). Que Vai Passar nessa avenida um samba popular, onde até dançaram os nossos ancestrais; ou, quem sabe, o que passava era A Banda, cantando coisas de amor, deixando eu, a moça triste (que vivia calada) a sorrir na sacada – da janela, surpreendentemente alegre, assim como toda a cidade; haviam notícias frescas em um disco, Meu Caro Amigo; o homem que caíra, ou mesmo suicidara-se em uma Construção (e que ''beijou sua mulher como se fosse a única…''), um que adivinhava ou deduzia O Que Será, e outro que falava de sua amada, tão preocupada, puro Cotidiano.
Outro dia minha mãe perguntava se eu conhecia a música da Geni. Disse que ouviu Chico cantando por aí. Conhecia, mas escutava sem atenção, nunca soube do que se tratava, nem de tamanha revolução. Dona Tereza desde então era pega cantando-a pela casa (ela quando cisma com uma música, só Deus sabe como parar).
Alguns dias se passaram e ontem eu ouvi a música da Geni. Não sabia, mas a composição havia sido bastante criticada. De conservadores até liberais. Mas ontem eu ouvi e senti pena. Pena pela coitada, tão singela, mas que também tinha seus caprichos e não era perdoada pela cidade – tão péssima em agradecimentos. Aquela que já foi namorada dos avarentos, dava-se atrás do tanque, no mato. Era quem fazia sonhar os moleques do internato. Ontem eu senti pena de Geni. E também pela moça que se debruçava no corpo do amado, que agarrava os teus cabelos, ''sem carinho, sem coberta, no tapete'', Atrás da Porta. Aquela mesma, que fora abandonada por quem a mandou ser feliz e passar bem. Olhos nos Olhos  ''quero ver como suporta me ver tão feliz''. Aliás, onde estará, ela, a Geni e tantas outras damas que Buarque encarnava, suas mais reais personagens, genuínas e solitárias…
Hoje eu cantei Geni, sem perceber. Mamãe preparava a comida e nem via o fato até que aumentei o volume. Fiz um dueto com o Chico, mas ele não me ouvia e nem se deixava ser interrompido. Cantei Geni no itunes, já que é difícil encontrá-la nas estações de rádio. Minha mãe me pediu que eu cantasse o restante das canções, diz que acha bonita a minha voz, imagina! Coisas de mãe (meu pai é mais sincero quanto a isso. gas-gui-ta e pronto. rs). A próxima começou como um conselho: ''Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas''. Chico só errara na localização geográfica. As mulheres são de Hollanda.

O dia de hoje, significa muito para a música popular brasileira.
Chico Buarque, um grande poeta, completa mais um ano de vida. sessenta e seis anos, e grande parte destes, regidos de muita música e literatura brasileira.
Não ouvi Chico a minha vida toda, mas de uns anos pra cá ele completou meu repertório musical e preencheu pensamentos soltos.
Artista combativo, clamoroso pela liberdade de expressão, ativo em protestos contra a repressão e a favor dos brasileiros - como ele - forçados a viver no exílio. Grande participante de festivais de MPB, sempre enfrentando os ditames ditatoriais em suas músicas. Hoje se alterna entre música e literatura, sempre com desenvoltura e qualidade. Pode não ser tão combativo quanto no passado, mas segue com afiado espírito crítico. É, acima de tudo, um poeta da canção popular.

Parabéns ao Chico! – poeta, cantor, compositor, boêmio e encantador.

E para curtir um pouquinho do muito que ele tem a nos oferecer acessa lá:

sábado, 12 de junho de 2010

Oração da Bailarina



Senhor, Na barra nossa de cada dia permiti que eu consiga lembrar-me da seqüência correta dos exercícios, que eu consiga algum dia esticar o joelho o suficiente, que eu consiga controlar a tremedeira no attitude devant, que eu tenha os braços e saltos tão leves que a platéia pense que dançar é a coisa mais fácil do mundo, que eu mantenha sempre uma postura de rainha com olhares infinitos e pescoço de girafa. Dai-me Senhor uma memória de elefante para saber a coreografia que foi mudada ontem, força hercúlea nos pés para conseguir subir na ponta, pernas de jogador de futebol, improvisação de atriz, eixo de peão para girar e equilíbrio para ficar imóvel em uma perna só para sempre. Que eu tenha ,Senhor, dinheiro para pagar as meias que puxam o fio, as sapatilhas que furam e as roupas de apresentação que somente serão usadas duas vezes. Ajudai-nos com linóleos perfeitos, coxias grandes, e no final de meses de ensaio prestigiai-nos Senhor com pelo menos um público para aplaudir-nos… Amém!


_Primeira apresentação depois da minha volta triunfante - cof, cof -. Será nesse domingo que vem. Merda pra mim!! :)
_Como é dia dos namorados, a homenagem, até então, será para as bailarinas. Porque bailarina, bonita, ahhhhhhh é bailarina né ?!?! (rs). Mas se você não é bailarina meu bem, aproveite enquanto há tempo. Reflita! ;D
Beijos enamorados a todos! 

quinta-feira, 10 de junho de 2010

band-aid


Eu quis muito aquele sapato.
Ele era tão lindo.
Um traidor!
Mas é sempre assim. Eu sempre escolho o sapato que mais devora pés de toda a minha sapateira exatamente no dia em que sei que ficarei andando de lá para cá o tempo todo. A competência de escolher errado é tanta que, numa outra ocasião, cheguei a jogar um scarpin safado na lata do lixo. E ele nem era tão velho. Era só odioso.
Bom, mas o fato que segue relatado abaixo, eu estava com outro par de sapatos divino, mas que nem com toda sua divindade conseguia se redimir do mal que me causava.
É fácil me lembrar com detalhes dos episódios porque todos os momentos ficaram registrados na minha memória e no meu dedinho.
Lembro-me de cada passo: a ida ao banheiro com a amiga, a volta do banheiro, longas caminhadas do carro a entrada da festa e vice-versa quando tentei ir embora, o fato de ter que levantar para comer quaisquer que fosse o prato de tamanha delicadeza.
Suplício.
Já ''acomodada'' na mesa, olhei para os meus pés.
Sapatinho safado...
Eram só nove e quinze. A longa noite só estava começando, e pretendia acabar em algum momento entre uma e duas da manha. Cinco horas, meus amigos. Cinco horas, era o tempo que eu teria de resistir. Maldição. E a amiga, não parava sentada. Oxii!
Tentei de tudo. Pedaços de papel dobrados para proteger a pele onde a situação era mais crítica, algodão que não solucionava quase nada.
Não, eu não tinha um band-aid na minha bolsa. Nunca tenho um band-aid na minha bolsa quando preciso de um band-aid. Mas por meses sem precisar dele, eu tinha tido um. Um cujo envelopinho derretera de tanto esperar, dormindo em minha carteira. Vai acabar feito o outro sapato: na lata do lixo. Mas naquele momento, em que eu seria capaz de trocar uma mecha do meu cabelo por um esparadrapo, não havia nada ao alcance dos meus pobres pés.
Existiam, pois, algumas mulheres com sapatos tão deprimentes quanto o meu.
Sim, elas, sua solicitude e suas bolsas que são mais pra um quite de sobrevivência.
Lá vinha uma delas conversar com a amiga.
Antes que chegasse perto, percebi em seu semblante algo de familiar. Por detrás de toda elegância, vi que ela tinha cara de quem estava com sapato apertado.
_''Oi. Você não teria, por favor, se não for incomodar, sem querer atrapalhar sua diversão, ó, adorável senhora, um band-aidinho para me emprestar?''
_''Band-aaaaaaaaaaaaaid???''
Sim, era um band-aid que eu queria. Não havia pedido uma banana de dinamite, anfetaminas, um tubo de KY ou um pedaço de pizza fria. Queria um band-aid. Um band-aidinho safado, pelo amor das almas.
_''Rarrã, é, sim, é, você não têm um?''
_ ''Não.''
E fim.
Insucesso absoluto.
Vaca.
Duvido que ela não tivesse um band-aid naquela bolsa enorme nada tendencioso àquela festa.
Nunca vislumbrei o paraíso, mas ali, entre as nuvens, para mim, ele era um só.
Um band-aid, pelo amor de Deus.
Antes que eu pudesse mostrar meu pé em sangue para a amiga, apareceu outra mulher. Sorridente, saltitante, quase feliz. E ela nem estava de havaianas.
Resolvi abordá-la quando a outra - a nervosa - não estava olhando.
_''Oi, puxa, você não teria um band-aid para me emprestar?''. Tentei de novo, falando baixo para a outra não ouvir.
_''Ah, um band-aid. Tenho, tenho sim. Tenho um só, na minha bolsa, mas eu já vou pegar para você, tá?''
Lá foi ela, toda faceira, voltando com um band-aid, bem velhinho, que me deu nas mãos.
Olhei descrente para aquele pedaço de papel...
Deveria estar guardado na bolsa da moça para uma emergência qualquer.
Santa mulher. Santa aniversariante que a convidou.
Saí de lá mancando um pouco menos. Saí quase de joelhos, sim, mas só para economizar o band-aid e mostrar gratidão à mulher que havia salvado minha vida. - ARRÃ! -
A noite passou. O pobre do band-aid doado não resolveu muito os meus problemas a longo prazo, é claro. Derreteu-se após duas horas de tentativas dançantes. Mas o ato de bondade acalentou meu coração. Procurei ficar sentada a maior parte do tempo para não piorar.
Quando eram uma e meia da manhã eu já me preparava para cantar o parabéns e ir em direção à minha casa para cair em um belo sono na minha caminha.
Nunca vislumbrei o paraíso, mas ali, entre as nuvens, para mim, ele era um só.
Correr descalça pelos corredores enormes daquele lugar localizado no Grajaú.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

on the other hand

Eu ainda não sei aonde a gente vai.
Se àquele restaurante de comida japonesa que você amava tanto ou àquele bar de mpb de onde saímos de pileque. Sim, foi há milênios atrás.
Só sei que vou estar bem nervosa quando você vier me apanhar.
Vejo você descendo do carro (ou do taxi) para me dar aquele ''oi'' mais acalorado das pessoas que não se veem há muito tempo, especialmente aquelas, que já tiveram alguma (boa) intimidade, mas que ficaram por eras afastados um do outro. Já quase me vejo pensando numa gracinha qualquer para quebrar o gelo daquele primeiro beijinho no rosto e daquele abraço demorado - que eu vou interromper para entrar no carro antes de você perceber que meu coração está feito repique de escola de samba.
Talvez a gente nem saia, fique por aqui mesmo. Nessa troca de olhares perdidos, que por um momento esquecem que não estão no passado, mas tentam se achar em algum lugar que ficou lá atrás. E a nossa imaginação fica longe, tenta concretizar aquilo que os nossos atos ainda não conseguem acompanhar.
Ainda não sei sobre o que vai ser o começo da nossa conversa.
Se sobre a crise econômica mundial ou sobre o novo filme do Jonathan Dayton - aliás,
que filme foi aquele! -.
Mas eu acho que você vai falar mais do que eu. Dessa vez.
Porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, enfim, a vida mudou muito desde aquela última viagem.
Eu acho que tudo que você me disser vai me interessar. Ainda mais depois de anos sem que eu tenha prestado real atenção em alguém - mesmo que tentasse convencer a mim mesma, o tempo todo, que os assuntos deles me interessavam.
Num dado momento, vai até parecer que você quer se abrir, mas que tem medo, e que prefere esperar mais para entrar nos detalhes mais íntimos da sua vida num tempo em que a ela eu não pertencia mais. Certo você! Eu também vou preferir ficar na minha quando o assunto for o meu último relacionamento ou o fato de eu ter largado muita coisa do que eu fazia e você aplaudia de pé e participava, sendo que você, não mudou nem de carreira, nem de atitude.
Eu vou te achar um cara bem mais centrado, melhor resolvido, senhor de si e, bom, senhor de mim, naturalmente. Só que você não vai saber disso. É que eu vou fingir que não estou me derretendo por você, mesmo que, no fundo o meu sangue esteja correndo sob temperaturas venusianas.
Mas como você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, enfim, como a vida mudou muito desde aquele última viagem, eu não vou transparecer essa situação tão pessoal do meu sistema circulatório. E você vai ficar surpreso porque vai me achar tão tranquila e vai pensar que puxa, eu não era assim. Vai se lembrar de que achava até meio charmosinho o fato de que às vezes eu falava tão rápido quanto um locutor de corrida de cavalos,  a forma como eu reclamava quando estava nervosa e você ainda repetia o dito cheio de graça e carinho. Mas ali, não. Porque eu vou falar devagar. Sim, algo me diz que a gente vai acabar indo até aquele restaurante que você adorava. E que eu continuei a frequentar por todos esses anos.
Se vamos falar da comida? Só se você puxar a conversa para testar os meus conhecimentos gastronômicos e para me agradar, é claro. Sim, você vai querer me agradar. Especialmente quando começar a achar que eu estou muito na minha para quem não te via há tanto tempo.
Daí o papo fluirá naturalmente para músicas e filmes. É, pensando bem, vai ser inevitável que falemos sobre filme. Adorávamos esse programa. E sobre música? Isso nem precisa deixar claro.
Você, sem dizer nada, vai se lembrar de como me achava romântica. Vai se lembrar daaquele show que - você nem faz idéia - eu tive medo, de tão feliz que me senti. Você vai se lembrar de que, todas as vezes que nos falávamos por telefone, falávamos juntos, nunca dando o timing certo da espera da fala do outro, e que você achava isso irritantemente engraçado. E aí sim, não vai deixar de lembrar, como estávamos sempre em sintonia.
Mas de repente, enquanto eu estiver articulando as palavras no meio dos goles de água pra tentar esfriar a mente e molhar a boca que já não se aguentava mais de tão seca, e da sua presença quase insólita na minha frente, mil perguntas aporrinharão meu cérebro – mesmo eu percebendo que não é a hora para você revelar os tais detalhes íntimos. E eu vou te achar tão perfeito para mim, de novo, que vou começar a pensar.
Será que um dia você chegará a me conhecer direito? A verdadeira eu? Essa, que dorme com a cachorra na cama e anda com elástico de cabelo feito de meia o dia todo na cabeça?
Será que algum dia eu vou conhecer seus segredos, aqueles desprezíveis e ordinários? Porque não é possível que você não tenha algum, apesar dessa sua cara de banho. Será que algum dia você chegou a saber quem eu fui de verdade enquanto estávamos meio juntos? Será que estivemos mesmo meio juntos? Será que você precisa saber de alguma coisa minha que já não esteja à mostra? Será que adianta fingir que sabia de alguma coisa? Será que eu quero saber de um outro você que não esse aqui?
Para ser sincera, talvez, hoje, você nem caiba mais na minha vida. Porque sim, foi tudo meio lindo, mas meio triste também, não? Meio abortado. Meio sem começo, sem meio, sem fim. Metade de alguma coisa.
E de repente, eu não acredito mais em nada.
Não te retorno mais em nada.
Justamente porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro e a vida, meu caro, mudou muito desde aquela última viagem.